Mestre Bimba
De 1890 a 1937, a Capoeira foi um crime previsto
pelo Código penal da República. Simples exercícios na rua devem até seis
meses de prisão. Nesse Ambiente hostil, as escolas de capoeira
sobreviveram clandestinamente nos subúrbios.
Foi para reverter
esse quadro que o baiano Manoel dos Reis Machado, um angoleiro forte e
valente conhecido como Mestre Bimba inventou uma nova capoeira.
Teve
o cuidado de tirar a palavra do nome da academia que fundou em 1932 em
Salvador, o Centro de Cultura Física e Regional. Filho de um campeão de
batuque uma espécie de luta-livre comum na Bahia do século XIX, juntou a
técnica do boxe e do jiu-jitsu e criou um método de ensino.
Para
fugir de qualquer pista que lembrasse a origem marginalizada da
capoeira, mudou alguns movimentos, eliminou a malícia da postura do
capoeirista, colocando-o em pé, criou um código de ética rígido, que
exigia até higiene, estabeleceu um uniforme branco e se meteu até na
vida dos alunos.
"Para treinar com meu pai era preciso provar que
estava trabalhando ou mostrar o boletim do colégio", conta Demerval dos
Santos Machado, conhecido como "Formiga" nas rodas de capoeira, e
organizador da Fundação Mestre Bimba, ao lado do irmão, Mestre Nenéu.
O
resultado é que a partir daí, a capoeira começou a ganhar alunos da
classe média branca e também a se dividir. Até hoje angoleiros e
regionais criticam-se mutuamente, embora se respeitam. Os angoleiros se
dizem guardiões das tradições, os regionais já acham que a capoeira deve
"evoluir".
Com isso, Bimba deu ares atléticos ao jogo e atraiu
as mulheres, até então excluídas das rodas. "Meu pai falava de uma
capoeira chamada Maria doze homens, mas era exceção", diz Nenéu, Mestre
Curió confirma: "Dos anos 40 para o 50, poucas mulheres jogavam".